Não sei se ainda hoje existem as "Vendedoras de Ouro", dessas que vendem "Ouro no Pano", que andam com diversos tipos de jóias, como cordões de ouro, pulseiras, braceletes, brincos, gargantilhas,pingentes...
Visitam as casas das pessoas (com alguma referencia, é claro) e vendem no crediário, à vista, no cheque, enfim, todas as formas de pagamentos...
D. Ana, Dona de Casa, do Lar, mãe de 05 filhos, simples, sem frescuras, despida de vaidades e esposa de um Gerente Comercial antigo que ganhava razoavelmente bem, recebe a visita de uma dessas "Vendedoras de Ouro", por indicação de uma vizinha muito vaidosa (dessas bem perua)...
Era sábado à tarde, mais ou menos umas 14:00 hs e a Vendedora de Ouro chega à casa de D. Ana, acompanhada da tal vizinha perua...
Então a Vendedora vai até ao quarto do casal e abre sobre a cama, aquele enorme pano, com centenas e centenas de jóias de ouro:
14:00 Hs
- D. Ana, Seu Severino me disse que a Senhora pudesse escolher à vontade...
- Ta bom minha filha..., deixe ver os anéis....
(Olhou tudo quanto foi de anel, separou alguns...isso levou uns vinte minutos)
- D. Ana, a Senhora não queria olhar as pulseiras agora ?
- Vamos ver, minha filha....(experimentou umas 20 pulseiras,demoradamente..isso levou uns trinta minutos pois também teve de atender o telefone. Separou umas 06 pulseiras para escolher uma no final).
15:00 Hs
- A Senhora precisa ver as "Correntes e as Gargantilhas, D.Ana !
- Claro que sim, vamos ver...(Olhou uma a uma, achando todas lindas e muito bem feitas...separou uma de cada...Quarenta minutos, pacientemente escolhendo). Nessa ocasião, chega uma prima de visita, e a acompanha na "escolha das jóias"...Chega também a "Hora do Lanche" e D. Ana convida a Vendedora, A Vizinha Perua e a Prima recém-chegada para o "Lanche da Tarde"..
16:30 Hs
Voltam as quatro para o quarto, e a "Vendedora de Ouro" abre novamente o Pano por sobre a cama de casal coberta com um tecido de algodão, belíssimo, trabalhado por rendeiras...
- D. Ana...é a vez dos "Brincos e Pingentes"...
Muitos brincos e pingentes, de todas as formas, cada um mais bonito que o outro...
Escolhe um, não gosta de outro...Prima diz uma coisa, vizinha diz outra e assim vai passando a tarde de sábado, entre conversas, ouro e escolhas...
17: 40
Começa a ficar escuro, e D. Ana, ainda em dúvida e insegura na escolha das belíssimas jóias...
Então a "Vendedora de Jóias", já com o olho no relógio, pois já anoitecera e num arremate final, pergunta a D. Ana:
- A Senhora vai ficar com quais, D. Ana ?
- Minha filha, não vou ficar com nenhuma...me desculpe...
- Mas por que, D.Ana ? Seu Severino disse que podia comprar, sem problemas...
- Eu sei minha filha, eu sei...mas é porque "Eu não gosto de juntar essas coisas não".
(D. Ana Bezerra, minha mãe (in memoriam), foi uma criatura completamente desprovida de vaidades e só deixou bons exemplos durante toda a sua vida terrena).
Texto João Bryto
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